domingo, 10 de junho de 2012

A Cultura Humana da Comunicação e Informação no Ambiente das Tecnologias e da Informatização


A CULTURA HUMANA DA COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO NO AMBIENTE DAS TECNOLOGIAS E DA INFORMATIZAÇÃO

RESUMO:
Fruto de leituras, interpretações e discussões, ou seja, reflexões teóricas acerca das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) presentes no ambiente educacional contemporâneo e nas relações sociais, este trabalho objetiva expor apreensões e apropriações acerca do uso das tecnologias entremeadas pelo uso da internet no dia-a-dia das pessoas. Discorre sobre a construção de coletivos que produzem inteligências recíprocas por meio do espaço virtual de interação social do saber. Aborda a questão da informatização como uma realidade ao ser humano e a transformação das necessidades diversas do sujeito do conhecimento através da cultura da informação e comunicação.

PALAVRAS-CHAVES: Tecnologias. Educação. Informação. Comunicação. Conhecimento.


1.0 Introdução
Vivemos em um contexto social, cultural e econômico onde a informação e a comunicação são no mínimo necessárias nas relações e atividades desenvolvidas pelo homem e pela mulher. Os enormes fluxos de conhecimentos presentes nas atividades humana se dão por meio de mecanismos diversos que o homem e a mulher construíram ao longo de sua história. Mecanismos que por sua vez, mobilizam grande variedade de competências a partir de inovações e ressignificações. Tais competências, seguindo o fluxo natural da ação humana, desenvolvem, inclusive, novos mecanismos de comunicação e novas capacidades de interação e desenvolvimento social e econômico.
Como consequência, são estabelecidos novos paradigmas culturais relacionados à comunicação e interação humana nos diversos âmbitos da vida. A discussão acerca das novas tecnologias de informação e comunicação se tornou corriqueira nos meandros educacionais que sempre teve grande influência das tecnologias. O presente trabalho, por exemplo, nasceu de reflexões teóricas acerca das tecnologias e sua influencia nas relações sociais, na cultura e na educação.
O uso da informática se insere na construção do conhecimento como fator determinante e possibilitador de novas atitudes e inovações. Convivemos atualmente com ambientes virtuais de informação e comunicação decisivos perante as exigências de resoluções de situações problemas em um tempo cada vez mais curto. O tempo virou objeto precioso para o novo homem e a nova mulher da contemporaneidade.
A capacidade mínima para navegar no ciberespaço se adquirirá provavelmente em tempo muito menor que o necessário para aprender a ler e, como a alfabetização, será associada a muitos outros benefícios sociais, econômicos e culturais além do acesso à cidadania (LÈVY, 2007, p.63).
Nesse contexto, as crianças já nascem inseridas no ambiente virtual, regido pela tecnologia da digitalização e informatização. São “assistidas” mesmo dentro do útero materno por meio da tecnologia da ultra-sonografia que tem aperfeiçoado a cada dia. Durante toda a vida somos apresentados às inovações e nos aliamos a essas novidades atendendo às exigências sejam elas de caráter social, econômico e/ou cultural.
E assim, ao longo das nossas atividades e experiências nos adaptamos as mudanças e inovações com tamanha facilidade que nos tornamos cooparticipadores das transformações. Colaboramos com a torrencial evolução do uso da informação e da interatividade por meio das novas tecnologias da informação e comunicação. Tornamos colaboradores de uma cultura informacional no ambiente virtual da internet.
Mesmo quem não nasceu no contato direto com as tecnologias de informação e comunicação, ou seja, em ambientes cuja presença tecnológica não se fez com tamanha influência, tomou para si o universo permeado pelas as mesmas. Foi inevitável sua inserção nos novos ambientes devido, inclusive, uma necessidade sociocultural baseada no sentido de pertencimento a um grupo social e a necessidade de desenvolvimento e inovação que é latente ao ser humano.
Somos regidos e regentes de um sistema tecnológico de informação e comunicação que por ser tão necessário tornou-se intrínseco às nossas atividades, desde as mais simples como utilizar um telefone para nos comunicar a longa distância, até as mais complexas, como por exemplo, criar ambientes de compartilhamento de conhecimentos acessíveis a todos por meio de vias virtuais (videoconferências, blogs, chats, sites, etc.) Os meios da informação são diversos.
Para Moore, 2007 apud Gomes et al, 2011, p. 23:
Atualmente, a literatura sobre a educação a distância é farta em modelos e tecnologias que são utilizadas como meio pra a realização desta modalidade de ensino tanto por instituições formais de ensino como por empresas, algumas delas: Telepresencial, Redes Sociais, Webcast, Blog, Wiki, Podcast, Videoconferência e Mundo Virtual.
Essa evolução tecnológica constitui-se em evolução humana sob a ordem veloz das necessidades do homem e da mulher. A utilização de ferramentas e tecnologias para a informação e comunicação mudou e muda, no mesmo passo das invenções da mente humana, a vida do ser humano como um todo. Todas essas evoluções, mudanças e aperfeiçoamentos tecnológicos são oriundos do advento da informática que transformou a humanidade sob diversos aspectos e, nos leva a vislumbrar outras, em curto e em longo prazo, pois tão quão diversas se fará as necessidades dos sujeitos do conhecimento.
Para Lévy (2007, p.14) “mesmo que não nos movêssemos, o mundo mudaria à nossa volta... se o mundo mudar a nossa volta, então nós nos movemos”. Ou seja, a mudança é inevitável.
2.0 Informação, Comunicação e Educação: uma relação necessária
As tecnologias estão cada vez mais presentes na educação. Na atualidade o uso de ferramentas tecnológicas tornou-se um instrumento a mais a serviço do professor e da escola para o desenvolvimento do aprendizado dos alunos. O ensino não está mais centrado nas aulas entre quatro paredes com um professor e um grupo de alunos. O ensino a distância tem ganhado força, apesar das críticas que existem a respeito da ineficácia dessa metodologia. Hoje um professor dar aulas para diversos alunos em diferentes localidades através de sistemas de conexão on-line. O conhecimento está à distância de um clique.
Docentes e discentes utilizam da informática, dos ambientes virtuais e das tecnologias para a transposição didática, para reduzirem distâncias e aumentar o fluir do conhecimento entre ambos. Os meios são vários desde o e-mail, que revolucionou a prática da correspondência, aos mais modernos sistemas de videoconferência em tempo real para uma grande quantidade de pessoas em diversos espaços (telepresencial). O espaço físico-geográfico foi suprimido pela nova configuração espaço-tempo. Configuração estabelecida entre fios, cabos wireless e satélites.
Para Matos et al (2010, p. 47) “hoje o tempo e espaço ganham outra dimensão, ampliam-se os conceitos e possibilidades e o homem adquire liberdade para administrá-los conforme suas necessidades”. A distância geográfica já não representa um entrave na construção do conhecimento, pelo contrário, possibilita relações diversas.
Quem é o outro é alguém que sabe. E quem sabe as coisas que eu não sei. O outro não é mais um ser assustador, ameaçador: como eu, ele ignora bastante e domina alguns conhecimentos. Mas como nossas zonas de inexperiência não se justapõem ele representa uma fonte possível de enriquecimentos de meus próprios saberes. Ele pode aumentar meu potencial de ser (LÉVY, 2007, p.27).
A informática permite conexão com o mundo. Para a comunicação não existem mais barreiras, nem tão pouco para o conhecimento, que é o que nos move incessantemente. Nesse frenesi atuamos melhor quando juntos do que separados, pois o conhecimento de um constrói o saber do outro onde o diálogo é a fonte da aprendizagem mútua e ninguém jamais saberá de tudo, uma vez que o saber é dinâmico e subjetivo. Nos ambientes virtuais, quanto mais numerosos são os participantes, ou seja, a coletividade aos quais se une/conecte um indivíduo, mais oportunidades o têm de diversificar seus saberes e fomentar uma inteligência que pertença ao coletivo. Assim, é possível “reinventar o laço social em torno do aprendizado recíproco” (LÉVY, 2007, p. 26).
A tecnologia está a serviço da educação na prática do docente e do discente e nas relações estabelecidas entre esses dois construtores da ação educativa. A era digital inaugurou para eles possibilidades diversas de fazer de suas atividades elos com todo o mundo. As ferramentas tecnológicas para a prática docente permitem uma interação maior com o aluno e proporcionam ao professor possibilidades de fazer uma educação contextualizada com a realidade.
Os equipamentos de multimídia fornecem ao professor facilidades na mediação do conhecimento, pois tais aparelhos favorecem uma conexão de som, imagem, escrita e leitura e que integrados à internet possibilitam uma variedade de conhecimentos úteis, construção de novos posicionamentos a respeito de variados assuntos e a interação/contato com outras pessoas distanciadas pelo território geográfico. No espaço da internet há uma nova configuração espacial-temporal e o tratamento da informação é em tempo real.
 Essa transposição de fronteiras proporcionada pela internet cria possibilidades das pessoas manterem contato umas com as outras conforme suas necessidades, diminuindo as distâncias que impediam a comunicação. Segundo Lévy (2007, p. 14) as distâncias geográfica/territorial já não é um motivo para a não interação social, pois, “mexer-se não é mais deslocar-se de um ponto a outro da superfície terrestre”. A conexão generalizada materializa-se nas relações entre as pessoas, configurando novas formas de sociabilidade. Assim sendo, e como afirma Lévy (2011, p.19):
A internet tem aumentado consideravelmente nossos processos cognitivos individuais e coletivos, através do acesso a uma riqueza de dados multimídia em tempo real, multiplicando dessa forma nossa percepção e nossa memória.
A importância da internet, da informática e da educação permeada pelas tecnologias é indiscutível em nossa realidade sócio-educacional e cultural. Apesar dessa discussão fugir do objetivo principal do trabalho proposto, cabe ressaltar que muitas pessoas acreditam que apesar da utilidade e dinamicidade na construção e facilitação do acesso ao conhecimento (fomentado pelas novas tecnologias e os meios de interação mediados pela virtualização), nada substitui o contato humano. Acreditam na internet e todas as suas possibilidades à educação principalmente ao permitir o conhecimento partilhado entre diversas pessoas, mas defendem que a relação humana é insubstituível em qualquer circunstância educativa, principalmente na educação formal.
Vale destacar que as práticas contemporâneas de informação e comunicação não anularam as práticas tradicionais, mas sim, as reconfiguraram. Dessa forma, as atuais práticas são consequências de outras muitas vezes consideradas como antigas e defasadas. Isso significa dizer que pertencem ao mesmo objetivo prático.
As conferências simultâneas, as salas de bate papos, os ambientes virtuais de aprendizagem, os e-mails, as mensagens instantâneas, dentre outras possibilidades, se tornaram importantes nas resoluções de problemas e adoção de medidas, desde as relações pessoais, passando pela vida social até a vida profissional. Com o surgimento da multimídia a forma de agir do homem/mulher foi se alterando. Através da informação, da comunicação e interação social chegou ao que temos hoje: uma cultura da informação e comunicação circunscrita no ambiente da informática e da tecnologia regida pela linguagem intelectual.
2.1 O Acesso as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e a Exclusão Digital
Apesar de podermos contar com os grandes benefícios da internet e os sistemas de informação e comunicação modernos, essa possibilidade de acesso ainda representa uma apartheid entre os conectados e os não conectados, ou melhor, entre os que podem e os que não podem se conectar ao mundo virtual da internet e outras tecnologias. Isso porque o acesso não uniformizado, assim como tantas outras necessidades, inclusive a educação, fomenta uma separação que está vinculada às questões sociais, econômicas, culturais e políticas. O acesso às novas TIC está em grande parte relacionado com a desigualdade social baseada no acesso a poucos e na ilusão do acesso a muitos.
A sociedade imediatista, apesar de criar mecanismos que possibilitam a comunicação eficaz e indispensável para nossas necessidades, faz separações excludentes. A exclusão digital não é um fato isolado no Brasil, uma vez que há tantas outras exclusões que repercutem e são repercutidas no acesso as novas Tecnologias de Informação e Comunicação. Para compreender nossa época precisamos discutir acerca dessas novas tecnologias e do acesso as mesmas, pois interferem nas novas formas de relações sociais.
 O acesso garantido a todos aos novos mecanismos de comunicação social é essencial para a apropriação social das novas TIC, posto que, todo conhecimento, como assegura Boneti et al (2010, p. 17), “é uma construção social”. Pondera ainda que “não é possível produzir experiências, saberes e conhecimentos na individualidade, isso se dá num contexto de relações sociais, no contexto da construção material e social da vida” (2010, p. 17). Portanto, é justo que o conhecimento que é produzido no social, sirva ao social.
Para Barreto (2010, p. 39) a TIC surgiu “como elemento potencializador da compreensão de que a cidadania deve ser exercida por meio da participação efetiva de todos os segmentos sociais conforme contemplado na Constituição Federal de 1988”.
A partir dos objetivos diversos e das necessidades de cada pessoa, constituiu-se mundos virtuais para a troca, socialização e produção de conhecimento. A cibercultura é um bom exemplo de espaço contemporâneo para a construção de uma imensa, como diria Lévy (2007, p. 12), “enciclopédia viva”. Tal definição faz jus ao movimento de como as mudanças ocorrem na cibercultura, pois nessa cultura regida pelas tecnologias digitais, cada construção está sujeita a mudanças a qualquer momento, uma vez que os sujeitos que a constrói tem total liberdade de disseminar o conhecimento acerca de variados temas e assuntos em um movimento de opiniões de forma ativa e mutante. Esse espaço pressupõe a construção do conhecimento que é social.
No entanto, a realidade educacional ainda é muito aquém desse ideal.
Sabe-se ainda quão é ideológico, político e economicamente distante o acesso e a participação da ampla maioria da sociedade aos meios e recursos tecnológicos e educacionais – escola com computadores ligados a internet, centro de formação política e social. Estes, por sua vez, levariam a sociedade brasileira alijada dos processos tecnológicos e informacionais ora elementares, a terem condições de fazer o enfrentamento das desigualdades sociais, políticas e econômicas ao mesmo tempo em que fariam à sua maneira, a transformação de suas realidades por meio da solidificação de redes sociais sustentadas no pluralismo e dinâmica de suas comunidades. (BARRETO, 2010, p. 40).
O mundo mudou e continua a mudança, apesar dos grandes avanços que tardia em efetuar, seguindo o ritmo das transformações ininterruptas e aceleradas da técnica, e por que não dizer da ciência e seus profissionais e das mentes dos sujeitos do ambiente social. Tais mudanças interferiram e interferem espontaneamente na dinâmica da sociedade e nas transformações dos próprios sujeitos sociais, tornando-se um círculo permanente.
As transformações que presenciamos na atualidade é consequência de um processo longínquo. Para Waiselfisz (2007, p.13) as mudanças provocadas pelas tecnologias e velocidade na sua transformação “vem acontecendo ao longo de toda a história humana, desde a transição da pedra lascada à pedra polida – do paleolítico ao neolítico – até a fundamentação das várias evoluções industriais...”.
O homem e a mulher sempre descobriram, criaram e transformaram tecnologias que representaram soluções para diversas atividades desempenhadas por ele/ela. Somos seres do pensar, do inventar e do saber. Podemos citar várias dessas, como por exemplo, o descobrimento do fogo que serviu e serve para variados fins, da pele para agasalho, da pedra para perfurar e descascar, da organização em grupos para proteção contra as ameaças, da construção de ocas/casas, da criação de animais, do plantio de ervas e alimentos etc.
Entretanto é importante ressaltar o descobrimento da escrita, pois se trata da maior tecnologia e linguagem criada pelo homem/mulher que modificou a comunicação e que hoje faz parte de qualquer atividade humana. O ser humano é um ser essencialmente social e a escrita está inserida nas relações humanas enquanto linguagem entremeada de significados. Através da escrita o ser humano pode desenvolver as transformações que hoje fazem parte do dia-a-dia de cada pessoa. Foi a partir dessa tecnologia que tantas outras vieram a existir.
2.1.1 A Cultura Humana da Comunicação e Informação no Ciberespaço
Por meio da escrita a língua foi constituída e com ela a humanidade se organizou em grupos de pertença /cultura/territorialização. O espaço da cibercultura, construído pelo sujeito do conhecimento, é além da escrita, espaço de leitura, ou seja, espaço que pressupõe participação democrática de todos os sujeitos e não como tantas outras tecnologias da informação e comunicação que é detida pelo poder de um membro ou grupos individualizados, cuja ideologia é alheia à maioria. Tal ação ativa amplia a leitura e o compartilhamento de conhecimentos entre inúmeras pessoas pertencentes a grupos diversos. Ou seja, esse espaço tem um alcance qualitativo para construção e a administração do conhecimento, que pertence a todos.
Podemos citar o hipertexto, que é bastante utilizado na cibercultura e, consolida o uso de leitura e amplia o alcance da mesma. Tal documento é construído e enriquecido em tempo real por uma comunidade de autores e leitores conectados a uma mesma rede. O espaço do saber centra-se na valorização do humano em sua diversidade, por meio de uma ação democrática de participação, apesar da contradição que existe, haja visto que nenhuma mídia é totalmente universal.
Para Lévy (2007, p. 11) é no espaço do saber (o ciberespaço) que “todo elemento da informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada”. Pode-se está em vários lugares ao mesmo tempo, assim para esse autor, voltamos à condição de nômade sob a constante mutação a qual participamos nesse espaço, ou seja, “transformação contínua e rápida das paisagens científica, técnica, econômica, profissional, mental” (LÉVY, 2007, p.14). Ciberespaço é ambiente para troca de saberes.
Sob o aspecto econômico, o espaço para a troca de saberes é, inclusive, vital para a economia, uma vez que proporciona as redes de produção e de comércio a troca de informações, além da flexibilização e da inovação através de um espaço dinâmico e veloz. Agilidade é dinheiro no cenário econômico mundial. Nesse panorama a empresa, junto a outras instituições, como afirma Lévy (2007, p. 21) “acolhe e constrói subjetividades”. Para ele “a produção contínua de subjetividades será a principal atividade econômica” (p.21).
Desse modo, as informações necessárias de um grupo de pessoas cada uma com seus objetivos, desejos, apreensões, necessidades, etc. é fundamental no processo econômico. Isso é muito presente quando tomamos como exemplo a diversidade de produtos e serviços que temos atualmente no mercado para um mesmo fim obedecendo a detalhes que são aparentemente supérfluos, mas que passaram por escolhas individuais de consumidores diversos com suas necessidades múltiplas. Como essa ferramenta proporciona a filtragem de informação sob diversos aspectos, as informações se tornam navegáveis obedecendo a existência dos diversos interesses subjetivos.
O espaço do conhecimento tornou-se virtual ao ritmo da velocidade e visibilidade da evolução dos saberes. Consequentemente, esses saberes, interferem na vida cotidiana das pessoas a partir das transformações que levam o coletivo a se adaptar, aprender e reinventar para viver melhor em um universo marcado por emaranhados de subjetividades. A humanidade adotou como convenção que a tecnologia é um sistema de proximidade com as técnicas, com as significações, com as representações, com as linguagens, com a cultura e as emoções humanas.
A informática nesse contexto é a infra-estrutura, ou seja, o meio técnico, para os coletivos no espaço do conhecimento. Dessa forma, o papel da informática, assim como de outras técnicas da comunicação, é a construção dos coletivos inteligentes na promoção de conhecimentos e potencialidades mútuas.
Vivemos em um momento para além das mídias, através do uso de técnicas de comunicação que filtram o caminho de conhecimento e proporcionam o navegar no saber/tecnologia sob a égide do pensamento recíproco e não meramente no acúmulo de informações, apesar da existência de uma gama de espaços com o intuito e utilidade apenas de transmissão. Ao contrário da função das mídias que objetivam fixar, reproduzir, difundir e descontextualizar as mensagens, todo o arquétipo do ciberespaço está muito além da capacidade de transmissão. Esse espaço incita e reinventa a relação social em torno do aprendizado, da cooperação, da inteligência e imaginação, dialogando com as subjetividades e alimentando a sociabilidade do conhecimento. A ação de comunicação humana sempre implica em aprendizado.
Esse aprendizado está sustentado na medida em que uma pessoa domina conhecimentos que outra não domina e a recíproca é verdadeira. De modo que aquele que sabe as coisas que esse não sabe, representa uma oportunidade para o enriquecimento dos saberes de ambos. Relacionando isso a educação escolar, podemos citar como exemplo o papel do professor como o mediador entre o conhecimento e o aluno. O conhecimento do professor representa uma oportunidade ao aprendiz de desenvolvimento, e novamente a recíproca é verídica. Nisso entra a necessidade do compromisso político do professor enquanto elo essencial da prática educativa.
No ambiente das tecnologias a ligação entre o conhecimento e os sujeitos do conhecimento são os próprios sujeitos do conhecimento e a inteligência do grupo. Através dos mundos virtuais podemos pensar harmonicamente e produzir novas perspectivas em torno do conhecimento. A inteligência em grupo está presente e distribuída em toda parte, pois os saberes são o que as pessoas sabem. No ciberespaço essa inteligência em tempo real resulta em mobilização de competências do coletivo, ou seja, as competências em suas diversidades e, conseguinte, a identidade social de cada indivíduo.
2.2 A Busca por uma Inteligência Coletiva no Ambiente das Tecnologias
A internet possibilita várias ações simultâneas, como leitura, escrita, imagem, som e interação. Atualmente a “moda” é a participação de pessoas em redes sociais e grupos diversos. Entretanto, o que se percebe a olhos nus é que a grande procura por redes sociais e comunidades está baseada, em sua boa maioria, no gosto que as pessoas têm pela vida alheia e pela apelação na busca pela aparência.  A subordinação dos indivíduos a certas redes e comunidades e a ideologia da ostentação da inclusão em um meio que supõe status, leva uma dependência baseada em fetiches a uma pessoa ou a um grupo delas. Para Lévy (2007, p.28) “a base e o objetivo da inteligência coletiva são: o reconhecimento e enriquecimento mútuos das pessoas, e não o culto de comunidades fetichadas ou hipostasiadas”.
Outra situação bastante agravada é a exposição ao extremo da vida pessoal e íntima das pessoas, além do apelo à sexualidade e pornografias. Condutas antiéticas e antimorais são corriqueiras nos ambientes virtuais da internet. Sem um ideal de uso baseado na busca por conhecimentos e a produção do que defendemos até então de uma cultura de construção de uma inteligência que ao extrapor os limites geográficos e sociais, pertença a um coletivo consciente do seu papel de agentes transformadores das realidades diversas de cada membro, a grande parte dos usuários objetiva meramente se mostrar, numa busca desenfreada pela exposição da interioridade.
A busca pelo conhecimento, o compromisso com a ética, a busca pela cultura, por novos horizontes e a colaboração com uma inteligência que pertença ao social, passa longe do interesse da maioria das pessoas que utilizam a internet diariamente. Pessoas que têm milhões de “seguidores” e não cooparticipadores. Lévy (2007, p. 18) acredita que “se as nossas sociedades se contentarem em ser inteligentemente dirigidas, com certeza falharão em seus objetivos. Para ter alguma chance de viverem melhor, elas devem se tornar inteligentes na massa”.
3.0 Considerações Finais
A era digital instituiu mudanças significativas em nosso modo de viver, pensar, agir e interagir. As tecnologias de informação e comunicação são renovadas em um tempo cada vez mais curto e transformam nossas necessidades. Somos fruto e elaboradores de uma sociedade efêmera por mudanças. Todavia, a transitoriedade presente nos meios das tecnologias digitais contribui para a exclusão daqueles que não detém a possibilidade e garantia do acesso às mudanças, ou seja, as vítimas da negação ao acesso aos bens construídos pelo e no social.
Que as nossas sociedades estão mudando de forma muito veloz, principalmente nas últimas décadas, já é entendimento amplamente reconhecido, divulgado e aceito. Podem existir divergências quanto ao alcance, a velocidade, o significado, as perspectivas, os impasses e os impactos dessas mudanças em nossas vidas e na vida das sociedades. (WAISELFISZ, 2007, P.13).
Como dito anteriormente, em nossa realidade sociocultural as crianças já nascem inseridas no ambiente virtual (nativos digitais). Dessa forma já possuem desde muito cedo a capacidade mínima para navegar na internet e utilizar outros meios de comunicação e informação. Inclusive, dominam desde cedo muitas das formas de comunicação de forma rápida e eficaz. Desse modo, tais ferramentas já se fazem presentes na educação para crianças, ou seja, assessoram alunos e professores desde a educação infantil.
As tecnologias são ótimas metodologias para a alfabetização, desde que bem empregadas. Atualmente o acesso a tais tecnologias está associado a muitos benefícios sociais, econômicos e culturais. No entanto, poucas instituições de educação, em especial as públicas, oferecem aos alunos e professores oportunidades de acesso a esses bens construídos pelo e no social.
O processo criador no ambiente do espaço do saber contemporâneo (o ciberespaço) é a conexão com o conhecimento criado e recriado por mentes de diversas pessoas em diversos espaços e tempos. O espaço do saber mediado pelas tecnologias sempre existiu ao potencial latente do homem/mulher, pois são os seres humanos que sonham, pensam, agem. Esse espaço já se faz pressente por meio de cérebros conectados a outros cérebros. Assim, são experimentados todos os dias, pois nascem das interações ininterruptas entre as pessoas. Desse modo, o espaço do saber deve ser acessível a todos independente das diferenças entre as pessoas e os seus meios de sociabilidade, até por que são essas diferenças que possibilitam a esse espaço a diversidade de experiências e conhecimentos.
A garantia do acesso de todos aos meios tecnológicos de comunicação e informação social é essencial na construção da cidadania e da democracia. A apropriação às novas tecnologias de informação e comunicação significa a garantia de fomentar, inclusive, reestruturação social e econômica tendo como parâmetro as exigências sociais, econômicas e culturais vigentes. É necessário pensar na tecnologia como instrumento potencializador da prática docente, ao passo que as escolas precisam também potencializar esse mecanismo de construção do saber.
Os variados espaços de construção do conhecimento devem ser apreciados, estimulados e empregados na educação oferecida a todas as classes sociais. A internet e as novas TIC devem está ao alcance de todos uniformemente dentro das instituições escolares, tradicional espaço para a construção e disseminação do saber. Não basta que seja possibilitado na escola o contato com computadores e internet, quando não se garante a funcionários, professores e alunos o conhecimento em manejar e utilizar esses mecanismos para que recriem formas de fomentar um diálogo entre diferentes realidades, culturas e conhecimentos.
4.0 Referências
BARRETO, Robério Pereira. Tecnologias da Informação e Comunicação e Políticas Públicas: aproximação possível (p.39 – 59). In: BONETI, Lindomar Wessler [et al]. Inclusão Sociodigital: da teoria à prática. Curitiba, PR: Imprensa Oficial, 2010
BONETI, Lindomar Wessler et al. Inclusão Social: considerações teóricas e metodológicas (p. 13 – 23). In: BONETI, Lindomar Wessler [et al]. Inclusão Sociodigital: da teoria à prática. Curitiba, PR: Imprensa Oficial, 2010.
GOMES, Alex Sandro [et al].Colaboração, Comunicação e Aprendizagem em Rede Social Educativa. In: XAVIER, Antonio Carlos [et al.]. Hipertexto e Cibercultura: links com a literatura, publicidade, plágio e redes sociais. São Paulo: Respel, 2011.
LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução Luiz Paulo Rouanet. 5ª edição. São Paulo: Edições Loyola. 2007.
________. Do Hipertexto Opaco ao Hipertexto Transparente. In: XAVIER, Antonio Carlos [et al.]. Hipertexto e Cibercultura: links com a literatura, publicidade, plágio e redes sociais. São Paulo: Respel, 2011.
MATOS, Elizete Lúcia Moreira. Professor, Educação, Sociedade e a Inclusão das Redes Sociais (p.47 – 59). In: BONETI, Lindomar Wessler [et al]. Inclusão Sociodigital: da teoria à prática. Curitiba, PR: Imprensa Oficial, 2010
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Lápis, Borracha e Teclado: tecnologia da informação na educação. Brasília: RITLA/ Instituto Sangari/ MEC.2007.